Lagoa Azul perde a cor e fica lodosa após dano ambiental

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Um dano ambiental mudou a cor da Lagoa Azul e tem gerado reclamações de frequentadores, em Vilhena. O local é considerado pelos moradores um dos pontos turísticos mais belos da região. Contudo, há um mês, ocorreu um assoreamento [entrada de uma grande quantidade de areia] na nascente que provocou anormalidades na água, que antes era cristalina. O Ministério Público de Rondônia (MP-RO) investiga o caso.

O proprietário do sítio Lagoa Azul, Vilson Ribeiro, contou ao G1 que mora a 32 anos no local. Embora a lagoa esteja em uma propriedade privada, banhistas frequentam o local há anos, gratuitamente. Com isso, o endereço se tornou uma opção de lazer para os moradores da região.

Segundo o sitiante, cerca de 200 pessoas frequentam a lagoa aos fins de semana. Porém, nas últimas semanas, a lagoa mudou de cor e tem impossibilitado os banhos. Além disso, Ribeiro disse que encontrou peixes mortos na água.

O sitiante explica que a nascente da lagoa está localizada na propriedade vizinha, que produz soja e milho. A produção fica em uma área de terra mais alta em relação à lagoa.

“O vizinho desmatou lá em cima, gradeou a terra e quando veio a chuva, trouxe tudo para dentro da lagoa, porque não tinha curvas de nível [espécie de morros de terra, que evitam o escoamento da água da chuva]. A água desceu e trouxe areia, terra e veneno, tudo para a lagoa”, explicou o sitiante.

Frequentadores

Frequentadores da lagoa reclamam do dano ambiental e fazem campanhas nas redes sociais, postando fotografias e hashtags para chamar atenção das autoridades.

Centenas de internautas fazem comentários, como: “Muito triste. Espero que as autoridades tomem providências mesmo. Já fui várias vezes lá e era um lugar lindo.”

E ainda: “É revoltante, é gritante a destruição desse lugar que um dia fora um paraíso onde nós Vilhenenses não cansávamos de descansar o corpo e a mente. Precisamos sim de uma resposta das autoridades responsáveis sobre o extermínio, a destruição da lagoa azul.”

Autoridades

O MP-RO informou que está apurando o caso e pediu relatórios para a Polícia Militar Ambiental (PMA) e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam).

Agentes da PMA disseram que foram ao local, registram o dano ambiental e já enviaram o documento ao MP-RO. A Sedam confirmou que houve assoreamento, ou seja, cerca de 1000 metros cúbicos de areia invadiram a Lagoa Azul. A secretaria também informou que o solo foi degradado.

Conforme a avaliação da Sedam, a mata ciliar está mantida, porém, não foi suficiente para evitar o assoreamento da lagoa. O órgão também constatou que o fazendeiro vizinho construiu curvas de nível. Contudo, o procedimento não foi efetivo durante a grande quantidade de chuvas na região.

“Houve um dano ambiental, mas não podemos julgar se foi doloso ou culposo. Houve assoreamento da Lagoa Azul e degradação do solo. Se não for dado o tratamento adequado, corre o risco da nascente sumir”, ressalta o gerente regional da Sedam, Wallace Pereira Martins.

Sobre a possibilidade da lagoa ter sido contaminada por causa de veneno usado na produção de soja, o gerente disse que a análise química da água ainda não foi realizada.

O relatório da Sedam foi concluído nesta semana. O MP-RO deve decidir sobre os próximos procedimentos da investigação.

“Na conclusão, a hipótese levantada pela Sedam é que foi feita a gradeação do solo, que é arenoso, e com as fortes chuvas e a área em declive, houve o assoreamento”, ressaltou o gerente.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) de Vilhena, acompanhada por agentes do meio ambiente de Comodoro (MT) realizaram uma visita técnica ao local, na quinta-feira (2), após receber denúncias sobre lama na lagoa. Ainda não há um consenso entre os órgãos sobre qual município a lagoa pertence.

Conforme a PMA, a propriedade pertence a Vilhena. Além disso, o dono do sítio apresentou documentos ao G1, onde o endereço da lagoa está em Rondônia. Já a Sedam afirma que a lagoa pertence a Comodoro, assim como o mapa visto no Google Maps.

A Lagoa Azul está localizada há 37 quilômetros do Centro de Vilhena e a maioria dos frequentadores são de Rondônia. A Semma de Vilhena informou que está fazendo um levantamento de dados para saber, de fato, a qual município a lagoa pertence.

Após ser definida a jurisdição, as providências devem ser deliberadas pelo município responsável, segundo a Semma de Vilhena.

O fazendeiro, suspeito de ter cometido o dano ambiental, preferiu não falar sobre o assunto.

Fonte e Fotos: Eliete Marques e Portal G1