DEJÁ VU: Replay de uma eleição

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Em Junho de 2016 quando cheguei aos EUA para iniciar os estudos de meu doutorado em administração – chance ímpar dada pelo mantenedor das Faculdades REGES, Professor Gonzaga – a corrida presidencial americana estava começando a esquentar, com a reta final das primárias dos partidos republicano e democrata (escolha de seus candidatos). Hillary Clynton e Bernnie Sanders disputavam a vaga democrata enquanto Trump, mesmo a contragosto de parte de seus partidos, praticamente tinha a indicação republicana no bolso.

A partir de Agosto, com a indicação de Clynton e Trump, começaram as ações que a meu ver levariam inevitavelmente á vitória de Trump. Toda a mídia nacional ( com exceção da rede FOX) – ABC, CBS, MSNBC e CNN despejaram todo seu furor liberal (leia-se esquerda) sobre o candidato republicano. Tudo era válido por meses até a eleição – antigos casos amorosos ou sexuais assim como qualquer possível escândalo baseado em suas afirmações diárias.
Não importava que Hillary tivesse cometido crimes com relação a seus e-mails e depois mentido em juízo. Que tivesse tentado encobrir sua responsabilidade no ataque terrorista em Bengazi que matou o embaixador americano na Líbia. Que tivesse usado dos mais sujos truques e artimanhas no seu partido para inviabilizar a candidatura de seu oponente Bernnie. Não importava que o presidente Obama e sua esposa Michelle tivessem praticamente pedido ‘licença’ da Casa Branca para fazer campanha em favor de Hillary…ou que Loretta Lynch, US Attorney General (Procuradora-Geral) tenha se encontrado na pista de um aeroporto numa noite com Bill Clynton para discutir como livrar Hillary das acusações. Também não importava que o FBI estivesse engavetando todas as acusações contra Hillary enquanto – sem autorização judicial – fazia escutas no comitê eleitoral de Trump.

Tudo isso veio á tona na reta final da eleição e confirmadas nas investigações que se arrastam a mais de um ano sobre a participação russa nas eleições. Mas o pior foi saber que Donna Brasile, repórter chefe da CNN, entregou préviamente ao comitê eleitoral de Clinton, as perguntas do debate presidencial patrocinado pela rede de TV. Apesar de renunciar, nunca pediu desculpas assim como a própria CNN. Assim como descobrir recentemente que dossiê fake da intromissão de Putim, tinha sua origem no partido Democrata…

Não precisa ser nenhum doutor ou mestre em teorias comportamentais para deduzir que o americano tradicional, conservador, do agronegócio, do chão da fábrica que é a ‘maioria silenciosa’ do meio-oeste iria se aliar a Trump contra a esquerda liberal da mídia, de Hollywood, do sistema financeiro, das petroleiras e do ‘big business’. E Trump foi eleito… contra a vontade do ‘sistema’ e destruindo a credibilidade da mídia e das pesquisas eleitorais que davam como certa a vitória de Clinton por até 10 pontos percentuais (pp).

Enquanto aparentemente os comandantes da campanha de Bolsonaro aprenderam muito com o ‘modus-operandi’(m.o.) de Trump, parece que o resto dos candidatos e suas campanhas insistem em repetir a performance da mídia liberal americana de 2016 e das pesquisas patrocinadas pelos opositores, provávelmente na crença que ‘um raio não cai duas vezes no mesmo lugar’. Conceito no mínimo… primário.

Esta semana acompanhando os eventos no Brasil, as críticas e ações contra Bolsonaro, pareciam um verdadeiro ‘Dejá Vu’ de 2016. Quando Bolsonaro faz o sinal de uma arma, quando fala em armar a população, em armar os fazendeiros para prevenir invasão de suas terras – seus críticos na mídia e a ‘Bernnie’ versão tupiniquim, Marina Silva o atacam por pregar a violência. Se isto fosse verdade, como explicar o estrondoso sucesso de Bolsonaro por onde passa e prega essas medidas? Simples – ele não prega a violência, mas sim o DIREITO DE DEFESA, um direito individual de todo cidadão brasileiro, garantido na Constituição! Direito este que foi retirado pelo Estatudo do Desarmamento que não foi substituído por um incremento na Segurança Pública e que ainda foi piorado pelo sistema legal e judiciário que penaliza quem se defende (até provar auto-defesa) e garante benesses aos infratores.

Será que nenhum dos outros candidatos conseguiu ver que os brasileiros estão cansados de serem esquecidos, mal representados, vítimas do caos jurídico e legal, revoltados pela eterna sociedade de privilégios e privilegiados? Trump para desespero da esquerda liberal se aliou com NRA (National Rifle Association) que defende a 2ª emenda que garante o direito universal de ter e portar armas. A população endossou essa aliança. Pelo que se vê, no Brasil também. Quanto maior a insegurança nos centros urbanos, maior a desesperança e o desejo de se defender e não ser impotente como atualmente.

Quando se fala de Petrobrás a pergunta que Bolsonaro faz (e nenhum outro candidato responde) é : O que é mais importante – o retorno aos acionistas ou o custo para toda população brasileira? Acrescentaria… Quando a esquerda fala ‘O Petróleo é nosso’ porque ela se esquece de dizer que o lucro não é ? Qual o intuito de ter uma estatal se o benefício (não o subsídio)  não pode ser repassado à população? Idem para o Banco do Brasil que tem as taxas e as penalidades muitas vezes as mais altas do mercado, para a população. Para dar lucro aos acionistas?

Ser profissional de Marketing significa identificar, entender e satisfazer o consumidor (eleitor) em toda sua plenitude de desejos e necessidades, as vezes antes que elas venham à tona. Por isso hoje é a mais dinâmica das ciências da administração e da política – uma mistura de sociologia, psicologia, antropologia com uma grande pitada de criatividade.

Parece que muita gente anda esquecendo de fazer esta lição de casa. E aqueles que o fazem… poderão ter o sucesso que merecem. Trump que o diga!

 

Roberto Musatti
Economista (USP) Mestre em Marketing (Michigan State) Doutorando (CIBU-San Diego)
Professor das Faculdades REGES.
musattiroberto@hotmail.com