ROBERTO MUSATTI: MUSEU NACIONAL – O BRASIL E SUA (FALTA DE) IDENTIDADE

897

O Museu Nacional se foi, em labaredas vistas por todo o mundo. O Museu do Ipiranga está fechado desde 2016 e suas reformas, atualmente paradas, prevem abertura para não antes de 2022, quando comemora data festiva de 200 anos, como foi o caso do Museu Nacional em Junho.

Não se trata agora de achar culpados para o acontecido. O Brasil é culpado. Fica difícil priorizar recursos para ter salvo o Museu Nacional quando no Rio e em boa parte do país pessoas morrem em filas de atendimento do INSS ou aguardando consultas que nunca vem. Cultura sempre virá depois da garantia de vida.

Fica difícil priorizar recursos para o Museu Nacional quando crianças não tem merenda na escola ou remédios no posto de saúde. Vida e sobrevivência vêm antes da cultura.

Fica difícil entender também que tanto a saúde, os medicamentos, os hospitais, a falta de comida nas escolas advêm em grande parte porque bom quinhão do dinheiro para estas prioridades, foi roubado sistematicamente e sem nenhuma vergonha pelos governos estaduais no Rio, com apoio do topo da pirâmide em Brasília, em sucessivos vôos petistas durante mais de 13 anos. A banalização da vida no Rio face também à violência, torna a tragédia do Museu Nacional como algo triste, mas apenas um detalhe para a sofrida população carioca.

Somos todos culpados porque o Brasil sofre desde sempre, uma crise de identidade. Ou melhor, de falta de identidade. Discorrer sobre os motivos históricos tomaria um semestre de aulas em boas Universidades (que também deixamos de ter nas últimas décadas). Entretanto podemos mostrar os sintomas desta falta de Identidade própria brasileira, traduzida na falta do orgulho pátrio. É comum o brasileiro achar ‘brega’ ser patriota, ou até fascista! Talvez porque ao contrário dos Europeus e dos Americanos, não tenhamos tido a oportunidade de defender o país de um domínio ou extinção nos últimos séculos. Não tenhamos tido de lutar para conseguir nossa independência.

Somos todos culpados desta falta de brasilidade onde o Museu é apenas um detalhe triste. Identidade remete á memória, á história, á conservação e criação de monumentos que reforcem nossas origens, nossos feitos, nossas heranças, nossas tradições. Os franceses podem ter lutado contra seus reis para estabelecer a primeira república democrática no continente, mas mantem o palácio de Versailhes da família real que decapitaram. Mantem o museu e os monumentos a Napoleão mesmo que tenha sido breve e controversa sua passagem no comando da nação. E o Louvre. E os Ingleses com o museu da Torre, Westminster, o Parlamento, o British Museum… Itália de Roma com o Palatino, o Coliseu, as Termas de Caracala… a China comunista com a Cidade Proibida dos Imperadores em Pequim… a Rússia (antiga comunista) com o museu dos czares….a Grécia de Atenas e sua Acropolis…a Espanha de Madrid com o museu do Prado.. E Israel com Massada, o Muro das Lamentações, Yad Vashem do Holocausto e a cidade santa de Jerusalém para quatro religiões.

Nos EUA, país da mesma idade que o Brasil, a Identidade, a Herança Pátria é coisa séria. Quem visita Washington, vai ver o memorial a Lincoln, o cemitério de Arlington, o memorial aos que tombaram no Vietnã e, claro, o museu Smithsonian. New York hoje tem o Ground Zero como grande atração nacional, mas também seus museus – MOMA, Guggenheim e o Metropolitan.

E quem mantem tudo isso? Governos municipais, estaduais, federais e centenas das maiores empresas privadas do país. Universidades participam também, mas todos sem viés politico, apenas cultural, da identidade nacional.

Não vamos apontar dedos ao desmando do dinheiro público como a Lei Rounet, ou as ideologias da Universidades Federais. Vamos sim perguntar com sinceridade onde estão nossos maiores empreendedores de sucesso. Nossos gigantes do sistema financeiro que batem recorde de lucro todo semestre em bilhões de dólares. Nossas maiores empresas – Ambev-Inbev, sempre com bilhões para novas aquisições.  Nossas fortunas individuais.

Somos todos culpados e continuaremos sendo enquanto a pátria, o patriotismo for algo ‘brega’, chulo e desprezível, que não mereça nem ser colocada via bandeira nacional, nas camisetas de nossos times de futebol.  Nossa herança, nossa história algo esquecido e empurrado para embaixo do tapete como algo sem importância alguma, face aos desafios de sobrevivência da população. Somos culpados enquanto dermos mais valor ao Louvre do que ao Museu Nacional. Ou acharmos algo apenas para turistas estrangeiros o Pelourinho ou as cidades mineiras de Sabará, Congonhas, Ouro Preto e São João Del Rei.

Não vamos continuar a nos enganar. Só vamos ter orgulho de nosso país, nossas origens, nossas tradições, nossa história quando todos de alguma maneira, ajudarem a criar e manter uma identidade nacional… a começar com a nossa bandeira – nosso simbolo – nos carros, nos uniformes esportivos, nas casas… tremulando por todos os lados ao sabor dos ventos… como vejo e invejo… aqui nos EUA.

Só vamos criar um futuro promissor se tivermos um passado, uma herança, uma tradição como base. Isto depende de nós. De todos nós.

Roberto Musatti

Economista (USP)
Mestre em Marketing (Michigan State)
Doutorando (CIBU – San Diego)