Amigos e parentes se despedem de vítimas do massacre em Suzano em velório coletivo

Cerimônia, em arena para 4 mil pessoas, será aberta e deve acontecer até as 16h

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Parentes de Samuel Melquíades, de 16 anos, se despedem de aluno morto a tiros no massacre. Ele era descrito como educado e estudioso Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SUZANO – Com tristeza e espanto, moradores de Suzano, na Grande São Paulo, acompanharam desde as primeira horas da manhã desta quinta-feira o velório coletivo de seis vítimas dos ataque a tiros na escola estadual Raul Brasil. A cerimônia está sendo realizada no Ginásio Max Feffer, uma arena com capacidade para 4 mil pessoas.

Foram levados para o ginásio os corpos dos estudantes Kaio Lucas da Costa Limeira, de 15 anos; Claiton Antonio Ribeiro, de 17; Samuel Melquiades Silva de Oliveira, de 16; Caio Oliveria, de 15; e das funcionárias da escola Marilena Ferreira Vieiras Umezo, de 59; e Eliane Regina Oliveira Xavier, de 38.

Outras duas vítimas do massacre não participaram do velório coletivo. A pedido da família, as últimas homenagens ao estudante Douglas Murilo Celestino, de 16 anos, foram prestadas em uma igreja evangélica no Parque Maria Helena, em Suzano. Já o empresário Jorge Antônio Moraes, de 51 anos, foi enterrado às 11h no Cemitério Colina dos Ipês, também na cidade.

Para evitar encontros com as famílias das vítimas, os corpos de Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e Guilherme Taucci Monteiro, de 17, responsáveis pelo ataque, foram enviados para o Instituto Médico Legal (IML) da cidade vizinha de Mogi das Cruzes e seriam enterrados no fim da tarde.

A prefeitura de Suzano informou que, até 10h, três mil pessoas haviam passado pelo ginásio. Numa tentativa de dar alguma privacidade aos familiares das vítimas, a prefeitura cercou parte da quadra com grades. No interior desse cercado, onde estavam os caixões, só era permitida a presença de parentes e amigos próximos.

Os moradores da cidade passavam pela lateral da quadra. Em respeito às famílias, quem passava pelo velório procurava falar baixo. Muitas pessoas choravam, mesmo aquelas que não tinham ligação direta com as vítimas:

— Ele não merecia isso — disse uma colega de escola junto ao corpo de Claiton.

Torcedor do Corinthians, Kaio foi velado com a camiseta do time, cercado por seus parentes, muito emocionados.

Psicólogos e enfermeiros acompanharam toda a cerimônia. Entre os familiares, junto aos corpos, muitos passam mal. Parente de Cleiton, um senhor já idoso precisou ser socorrido. Depois de ter a pressão arterial medida, foi atendido por uma psicóloga.

Junto ao corpo de Eliane, a inspetora da escola, uma senhora precisou ser retirada numa cadeira de rodas.

Alunos do Raul Brasil também prestaram a última homenagem às vítimas. Alguns parecem estar em choque diante do que presenciaram no dia anterior:

— Conseguiu dormir essa noite? — pergunta um adolescente ao colega, que responde:

— Nada. Acordei várias vezes.

Samuel Dias Simões, de 13 anos, conta que conhecia Samuel Melquiades, uma das vitimas dos atiradores, por frequentar a Igreja Adventista. Na instituiçao, os dois, junto de alguns outros amigos, formavam um “grupo de desbravadores”, espécie de escoteiros-mirins:

Veja galeria de fotos no link https://oglobo.globo.com/brasil/homenagens-as-vitimas-do-massacre-em-suzano-marcam-velorio-coletivo-23521393

— Viemos porque todos fomos surpreendidos. O Samuel área muito amigo de todo mundo — afirma.

O velório atrai também uma multidão de curiosos, sem relação direta com as vítimas, mas ainda assim atingidos pela tragédia:

— Moro perto da escola, quis vir ver os meninos — diz Ana, que não quis dar o nome completo, enquanto carrega o filho no colo.

Ao longo da manhã, as pessoas que não tinham relação com as vítimas foram orientadas a ficar nas arquibancadas para dar espaço a quem não tinha passado pelo velório. A dor aproximava quem não se conhecia. Estudantes do Raul Brasil se juntam em grupos:

— Eu não te conheço, mas senti vontade de chorar com você. Posso? — pergunta uma menina a outra, que atende o pedido.

Para evitar encontros entre as famílias, os corpos dos atiradores foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) do município vizinho de Mogi das Cruzes. Por enquanto, as funerárias da cidade não confirmam o horário do velório de Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e Guilherme Taucci Monteiro, de 17.

Durante a noite, houve homenagens às vítimas da tragédia. Uma missa católica foi celebrada diante do Colégio Professor Raul Brasil. Durante a homilia, o padre  Claudio Tassiano pediu às pessoas, reunidas em círculo, que mantivessem a esperança, apesar das adversidades:

— Nas crises, não devemos desistir nunca. Não vamos desistir da esperança e do amor — disse.

A Secretaria Estadual de Educação informou que as aulas em todas escolas publicas estaduais e municipais de Suzano estão suspensas até a próxima sexta-feira. Ainda de acordo com a pasta, professores da rede discutirão as propostas pedagógicas para acolhimento, na próxima semana, dos alunos e comunidade escolar.

Os dois atiradores entraram na escola por volta das 9h45 desta quarta-feira . Cinco estudantes e dois funcionários foram mortos. Com a chegada da polícia, Guilherme atirou em seu comparsa e se matou em seguida, segundo o governo do estado . Antes de invadir o colégio, a dupla havia matado um empresário e roubado um carro.

Fonte: O Globo