Após ficar mais de 2 anos e meio à “sombra de um crime”, Ismael da Silva é condenado por morte da namorada

Foi o terceiro julgamento do caso: no juízo de 1º Grau Ismael da Silva foi absolvido da acusação de homicídio qualificado, mas o TJ reformou a decisão e o mandou ao tribunal do júri, que o absolveu. A decisão dos jurados foi anulada e o TJ determinou novo julgamento, concluído nesta quinta, 24

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Ismael (de camisa azul e sentado) chora com a mão no rosto após ouvir sentença em Cerejeiras. — Foto: Renato Barros/Rede Amazônica

Um caso que corre na Justiça desde abril de 2017 teve um desfecho nesta quinta-feira (24) à tarde em Cerejeiras. Julgado pela 3ª vez, Ismael José da Silva não conseguiu provar inocência e foi condenado a 14 anos de prisão em regime fechado. Ele foi acusado de ter matado a própria namorada, Jéssica Hernandes Moreira.

Ismael foi condenado por homicídio qualificado (meio de recurso que impossibilitou a defesa da vítima). Pelo crime de ocultação de cadáver Ismael foi absolvido. Após ser lida a sentença o réu foi recolhido à cadeia pública de Cerejeiras.

Ismael passou os últimos dois anos e meio à sombra de um crime e sempre alegou inocência. Foi o terceiro julgamento do caso: no juízo de 1º Grau Ismael da Silva foi absolvido da acusação de homicídio qualificado, mas o TJ reformou a decisão e o mandou ao tribunal do júri, que o absolveu em julgamento realizado em 2018. A decisão dos jurados foi anulada e o TJ determinou novo julgamento, concluído nesta quinta, 24

Por telefone a advogada Shara Eugênio disse ao Vilhena Notícias que já entrou com recurso contra a decisão.

Relembre a cronologia do caso

Assassinato após ‘teste de fidelidade’ –  Jéssica Hernandes Moreira, a namorada de Ismael, desapareceu em 20 de abril de 2017, depois que saiu de casa de bicicleta. No mesmo dia, familiares registraram uma ocorrência na polícia informando o sumiço da garota.

No dia 24 de abril, o corpo da jovem foi localizado na Linha 4, zona rural de Cerejeiras. Duas mulheres que faziam caminhada pela estrada sentiram um forte cheiro e encontraram o corpo envolto em uma lona preta. No dia seguinte, o namorado dela, Ismael, e o primo dele, Diego de Sá, foram presos suspeitos do crime.

Na época, a delegado falou que Ismael seria extremamente ciumento na relação e estava desconfiado de Jéssica, onde decidiu fazer um “teste de fidelidade” com a ajuda do primo.

Em seguida, Diego atraiu a jovem para uma casa, dizendo que tinha provas de que Ismael a havia traído. Na casa, Ismael teria ficado escondido enquanto Diego tentava uma confissão de traição da menor.

Ele contou que Jéssica assumiu uma traição, mas o delegado acredita que ela pode ter assumido apenas na intenção de descobrir também algo sobre a fidelidade de Ismael.

Após ouvir a suposta confissão, na versão de Diego, Ismael se descontrolou, deu um golpe com um pedaço de ferro na cabeça da garota, provocando o desmaio dela. Depois ele pegou uma faca e atacou a jovem, levando à morte dela.

1° júri de Ismael e primo – Em 9 de setembro de 2017, Ismael da Silva foi julgado e inocentado pelo crime de homicídio na 2ª Vara Criminal de Cerejeiras. No julgamento, ficou decidido que o primo dele, Diego Sá seria julgado no Tribunal do Júri por conter fortes indícios de que teria cometido o crime sozinho.

A absolvição ocorreu porque documentos e testemunhas mostraram que na hora provável da morte de Jéssica, Ismael estava na Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) da cidade com o acesso de computador logado na unidade.

Imagens de câmeras de segurança das proximidades do prédio e uma mensagem mandada por Ismael para Jéssica perguntando o que ela fazia também levaram o juiz a absolvê-lo.

2° julgamento – Em 9 de março de 2018, o TJ-RO reformou a decisão do juiz de Cerejeiras e determinou que Ismael também fosse julgado no Tribunal do Júri. A ordem do TJ para um novo julgamento foi dada após análise de recurso do MP, órgão de acusação.

No dia 24 de agosto de 2018, após dois dias de julgamento, foi anunciada a sentença e Ismael da Silva foi inocentado do crime de homicídio, porém, a os jurados entenderam que ele ajudou o primo a carregar o corpo de Jéssica até o matagal da linha 4. Pelo crime de ocultação de cadáver ele foi condenado a um ano de reclusão em regime aberto. Já Diego de Sá foi condenado a 19 anos por homicídio qualificado e por ocultação de cadáver.

No fim de abril de 2019, o TJ anulou a decisão do júri que absolveu Ismael do crime de homicídio. A determinação de um novo julgamento aconteceu porque a defesa do réu e Ministério Público Estadual (MP-RO) recorrerem da sentença do júri realizado em agosto de 2018.