VIÚVA NEGRA: Vânia deverá receber tratamento psiquiátrico após julgamento

1428

O tratamento psiquiátrico de Vânia Basílio Rocha, acusada de ter matado o ex-namorado a facadas durante o ato sexual (link 1 link 2), só deve começar após uma eventual condenação da jovem pelo Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO). Segundo o defensor público de Vilhena (RO), George Barreto Filho, isso vai acontecer devido aos trâmites do processo. Laudos divulgados pelo TJ, na segunda-feira (30), mostram que Vania tem transtorno de personalidade antissocial, ou seja, sociopatia.  

Vania, que completou 19 anos em janeiro, confessou ter matado o ex-namorado, Marcos Catanio Porto, no fim do ano passado,: “Queria matar alguém. Fiquei olhando olho no olho até ele morrer”, disse ela na época. Segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), o ex-namorado da jovem foi morto com 11 facadas.

Conforme o TJ-RO, embora o laudo aponte o transtorno, Vania apresenta capacidade de entender o caráter criminoso do ato que cometeu.

“Entretanto, a capacidade de determinação era reduzida ao tempo da ação, de modo que é imperioso o reconhecimento de sua semi-imputabilidade, com o prosseguimento do feito e em caso de eventual condenação, submetê-la a tratamento adequado”, diz decisão do TJ-RO.

Procurado pelo G1, o advogado ressaltou que o tratamento psiquiátrico em questão só deve iniciar após uma eventual condenação do TJ-RO, devido aos trâmites do processo. “A lógica para mim era de que o tratamento já começasse agora, com ela ainda no presídio”, explica George Filho.

A recomendação do perito do juízo é que seja feito um acompanhamento psiquiátrico e psicológico, visto que Vania apresenta risco a terceiros, requerendo vigilância e tratamento indicado pelo profissional da psiquiatria.

O Ministério Público de Rondônia (MP) se manifestou mantendo Barreto Filho como defensor do caso para prosseguimento da ação penal. “Por enquanto, Vania deve permanecer no presidio feminino”, declarou o defensor público.

Avaliação psicológica
A avaliação que traçou o perfil psicológico de Vania foi feita por um médico perito legista oficial, lotado na Delegacia de Polícia Civil de Vilhena, no dia 1° de abril, e por um médico psiquiatra, no dia 13 do mesmo mês.

Em entrevista, o defensor público de Vania, George Barreto Filho, comentou sobre o resultado. “O caso ainda está na fase de investigação. Se apresentarmos apenas a tese de doença mental, a sentença poderá ser decidida pelo magistrado presidente, sem precisar ir necessariamente para o Tribunal do Júri”, afirmou.

Crime e confissão
No dia 30 de dezembro de 2015, a vendedora Vania Basílio Rocha, então com 18 anos, foi presa em flagrante após matar a facadas o ex-namorado Marcos Catanio Porto, de 26.

Segundo a Polícia Civil, o crime aconteceu na casa da vítima, no momento em que os dois iriam iniciar uma relação sexual.

Enquanto estavam deitados na cama, a jovem pegou a faca, que estava escondida dentro da bolsa, e golpeou Marcos em várias partes do corpo. Ele não resistiu aos aos ferimentos e morreu.

Após ser presa, ainda na delegacia, Vania relatou ao G1 que planejou o crime. Segundo ela, três nomes de possíveis vítimas foram colocados em uma lista: um amigo, um “ficante” e o ex-namorado. Na noite de terça-feira (29), ela ligou para os dois primeiros, que não puderam vê-la, pois estavam com a família.

Na manhã do dia 30, Vania ligou para Marcos alegando que queria se despedir, pois iria embora para outro estado. Ela então colocou uma faca de cozinha dentro da bolsa e foi para a casa da vítima, que havia aceitado receber a visita. O casal foi para o quarto e, durante as preliminares sexuais, ela esfaqueou o ex-namorado.

“Eu queria matar uma pessoa só, dos três. Eu tapei o olho dele. Aí peguei a faca e meti nele. Ele reagiu e veio para cima de mim e eu fui para cima dele também. Eu enforquei ele e aí comecei a meter [facadas] em outras partes do corpo dele. Daí, ele gritou socorro e a porta estava trancada. O irmão dele quebrou a janela. Quando o irmão dele entrou, ele já estava quase morrendo. Fiquei olhando olho no olho até ele morrer”, narrou Vania (ouça acima a entrevista feita na época).

Últimas palavras
No velório de Marcos, em 31 de dezembro de 2015, Mauricio Jacob, amigo de Marcos, contou que estava na casa onde ocorreu o crime. “Ele morreu nos meus braços. ‘Ela é louca’ foram as últimas palavras dele. Perdi um irmão”, lamentou. Mauricio lembrou que após chegar na residência, Vania foi para o quarto com Marcos.

Depois de algum tempo, Mauricio e o irmão da vítima, Alberto, ouviram gritos de socorro. “Arrombamos a janela, pois a porta estava fechada. Quando entramos, ele segurava o braço dela com a faca. Arranquei a faca da mão dela e joguei longe. Ela sumiu e o Tim foi caindo para trás, falando que ela era louca”, contou Mauricio.

Após o crime, Vania se escondeu no banheiro onde ficou até a chegada da Polícia Militar. Ela foi presa em flagrante por homicídio qualificado, pois usou de meios que dificultaram a defesa da vítima, segundo a Polícia Civil.

Polêmica no Facebook
Uma das publicações de Vania mais comentadas no Facebook foi o texto de um blog que tinha como título: “eu não fui uma má namorada, você que me tornou”.

Após ser presa e confessar que matou o ex-namorado, os usários criticaram a postagem. “Imagina se fosse boa”, escreveu um jovem. “Louca, psicopata, parece que estava possuída pelo demônio”, acrescentou outro usuário. A postagem foi feita dois dias antes do crime.

Meses antes de matar o ex-namorado, Vania declarou que o amava em uma postagem no Facebook. Ela publicou uma foto no perfil em outubro de 2013. Em 2 de junho de 2015, Marcos comentou: “Ti amo muito”. No dia seguinte, a vendedora respondeu: “te amo, mais ainda”.

Vania disse em entrevista na delegacia que namorou com Marcos por nove meses, mas que estavam separados havia dois meses.

Comportamento estranho
Desde o dia da prisão, a suspeita estava isolada das outras presas, em um processo chamado de triagem, que de acordo com a direção do presídio, é um procedimento comum a todas as presas que dão entrada na unidade.

“Ela chega, fica dez dias sob observação para verificar o comportamento e a conduta com os agentes e depois disso vai para a carceragem com as outras presas”, explicou, na ocasião o diretor Flavio Miranda.

Segundo a direção, Vania estava sozinha na cela pelo fato de outras mulheres não terem sido presas depois dela. No entanto, após apresentar comportamento estranho, relatado por agentes plantonistas, Vania foi colocada em uma cela mais próxima da carceragem, onde continuou sozinha.

No dia 11 de janeiro, a jovem foi transferida para uma cela comum, com mais quatro detentas e não tem apresentado problemas.

Fonte: Portal G1