Código é criado para impedir tratores e outras máquinas de funcionarem em áreas protegidas

Usando mapa oficial de áreas protegidas, ativistas levaram cinco meses para escrever código que, implantado em máquinas novas ou antigas, pode impedir remotamente crimes ambientais como desmatamento e garimpo.

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Código da Consciência foi criado por uma equipe brasileira para impedir que tratores e outras máquinas funcionem em áreas protegidas — Foto: Divulgação/AKQA

Diante da impossibilidade de instalar cercas e câmeras de segurança para proteger as florestas de crimes ambientais, e da baixa probabilidade de demover grupos de exploradores de se aproveitarem da vastidão das áreas protegidas para desmatar ou garimpar ilegalmente, um grupo de brasileiros decidiu conscientizar as máquinas usadas por eles.

Foi assim que nasceu, no mês passado, o Código da Consciência, um código de programação escrito por uma equipe de sete pessoas em menos de cinco meses que, usando a geolocalização e um mapa das áreas protegidas em todo o mundo, faz com que qualquer máquina pare de funcionar sempre que estiver em uma delas.

O código vale tanto para tratores e motosserras usados para derrubar árvores quanto para as motobombas e escavadeiras hidráulicas essenciais para o garimpo, passando pelos caminhões que transportam a madeira nobre e o ouro extraídos ilegalmente dessas terras.

Para derrubar as enormes árvores amazônicas, madeireiros costumam usar tratores e correntes; brasileiros criaram um código para que as máquinas deixem de funcionar sempre que estiverem em uma área onde o desmatamento e o garimpo sejam ilegais — Foto: Nacho Doce/Reuters
Para derrubar as enormes árvores amazônicas, madeireiros costumam usar tratores e correntes; brasileiros criaram um código para que as máquinas deixem de funcionar sempre que estiverem em uma área onde o desmatamento e o garimpo sejam ilegais — Foto: Nacho Doce/Reuters

Criado pelo estudo AKQA, que fica em São Paulo, com o apoio de diversas entidades ambientais, o Código da Consciência é “relativamente simples”, disse ao G1 a equipe por trás do projeto.

“Não estamos falando de uma nova tecnologia, mas de um novo uso para uma tecnologia já existente. O projeto também não envolve um novo trabalho de mapeamento de áreas protegidas, mas do uso de um banco de dados livre, fruto do trabalho constante de diversas organizações pelo mundo”, explicaram os programadores.

Como pode ser implantado e usado em qualquer lugar do planeta, os brasileiros enviaram o código para um teste na Austrália – que foi bem sucedido.

Mapa do teste realizado na Austrália mostra que o Código da Consciência, implantado no software das máquinas pesadas, faz com que elas não funcionem caso o GPS mostre que estão em uma área oficial de proteção — Foto: Divulgação/AKQA
Mapa do teste realizado na Austrália mostra que o Código da Consciência, implantado no software das máquinas pesadas, faz com que elas não funcionem caso o GPS mostre que estão em uma área oficial de proteção — Foto: Divulgação/AKQA

Como funciona o Código da Consciência?

  • O código foi escrito na linguagem de programação python, por ser simples e poder ser facilmente traduzida para outras linguagens;
  • Como atualmente esse tipo de maquinário pesado já usa tecnologia avançada, com GPS e computador de bordo, a ideia é que as fabricantes incluam o código em seu software original, e equipamentos já fabricados podem, com uma atualização de software, ganhar acesso ao programa;
  • Como se trata de um código aberto, as fabricantes podem fazer adaptações para implementá-lo ao seu software;
  • Combinando as latitudes e longitudes de mapas oficiais já existentes e o GPS dos equipamentos, o código pode desligar a máquina sempre que ela estiver em uma área de proteção oficial.
A equipe por trás do Código da Consciência junto ao Cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças brasileiras, no lançamento do projeto — Foto: Divulgação/AKQA

A equipe por trás do Código da Consciência junto ao Cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças brasileiras, no lançamento do projeto — Foto: Divulgação/AKQA

De proposta a produto

A proposta foi apresentada às dez maiores fabricantes do mundo de equipamentos pesados como tratores, escavadeiras e caminhões, instrumentos sem os quais não é possível derrubar ou transportar árvores amazônicas, por exemplo.

Segundo os idealizadores, nenhuma delas é brasileira, mas todas têm fábricas no Brasil, e uma “grande fabricante global” já está em conversa para adicionar o código ao sistema operacional de suas máquinas.

Além disso, vários políticos já pensam em criar leis para obrigar a implantação do código nos equipamentos.

“Representantes de três países entraram em contato, com o objetivo de transformar o Código em lei”, afirmaram eles. “Além disso, algumas empresas que atuam na Amazônia, e outras que possuem fornecedores em sua cadeia de suprimentos que atuam próximos a áreas de proteção, também nos procuraram para adotar o Código em frotas já existentes.”

Agora, o grupo busca parceiros para produzir o produto em larga escala.

Fonte: G1/Rondônia