Com o quarto mantido da mesma forma que estava no dia da morte do filho, a dona de casa Miracilda Maria da Silva, de 54 anos, preserva a memória de Thiago da Silva Santos. O rapaz tinha 22 quando, na noite de 24 de julho, foi atropelado e morto durante uma disputa de racha no Espaço Alternativo, em Porto Velho. O caso completa dois meses nesta quinta-feira (24).
Thiago voltava para casa após um passeio de bicicleta com um amigo quando foi surpreendido por um carro em alta velocidade ao atravessar uma faixa de pedestres. Após o impacto, o jovem foi lançado por cerca de 30 metros e morreu ainda no local do atropelamento.
Miracilda lembra que havia dado uma parte da casa da família, no bairro Jardim Santana, para que o rapaz pudesse “construir a vida dele”. “Não tenho coragem de mexer em nada dele aqui. Ele era tão zeloso, cuidadoso com as coisas dele”, revelou a mãe.
A dona de casa também conta que a morte do filho mais velho deixou um vazio entre a família, amigos e a igreja que frequentava. Uma irmã da vítima foi diagnosticada com depressão após a morte de Thiago.
“Meu filho era um filho bom e eu estou sofrendo muito. Minha dor é muito grande. Eu nunca mais tive paz, nem sossego. Minha vida acabou”.
Uma das diversões da vítima, segundo a família, era andar de bicicleta. Após realizar o sonho de conseguir um emprego, três meses antes do acidente, ele comprou uma bike.
A mãe do jovem aponta também a falta dele no cuidado com o pai, que sofreu um acidente vascular cerebral e se locomove por cadeira de rodas.
“Eu preferia que meu filho estivesse preso igual ao que matou ele, porque pelo menos eu ia lá poder vê-lo”, desabafou a mão de Thiago.
Maria demonstra não ter sentimento de vingança em relação aos acusados de causarem a morte do filho, mas “a justiça que vai vir é de Deus. Eu creio em Deus e sei que Deus faz a Justiça. Deus vai ser fiel comigo”, afirmou.
Relembre o caso
As investigações da delegacia de Homicídios da capital apontaram que dois carros, um Corolla e um Ônix, disputavam um racha quando ocorreu o acidente.
Gabriel Vilela Dantas, de 24 anos, motorista do carro que atingiu o ciclista, está preso desde o dia do acidente. Ele fez teste do bafômetro no momento da prisão e o resultado foi negativo.
O motorista do outro carro que estaria participando do racha é um jovem de 18 anos que ganhou o veículo de presente de uma familiar. Vitor Renato Lopes está foragido desde 14 de agosto, quando a justiça decretou a prisão preventiva dele.
Os dois motoristas foram indiciados com a conclusão do inquérito. O Ministério Público denunciou, além deles, o carona que estava dentro do carro de Vitor, por incentivar a corrida ilegal.
A defesa de Vitor Renato Lopes da Silva informou que entrou com um pedido de liberdade provisória e aguarda uma decisão da Justiça. O advogado nega que ele estivesse participando de um racha porque estava numa velocidade 30% menor que o carro que atingiu o ciclista. O advogado que representa Gabriel Vilela não quis se manifestar sobre o caso.