ALEXANDRE GARCIA: O Tsumani de Bolsonaro

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O Presidente disse que “talvez tenha um tsunami” pela frente. Talvez já se tenha acostumado, por isso não percebe, que tem tido tsunamis desde que assumiu. Não um tsunami nos mares da oposição, dos derrotados em outubro, mas gerado por erupções digitais por alguns dos vencedores. À luz da razão, um tsunami inexplicavelmente batendo no lado do governo. Uma espécie de ajuda destrutiva, que mais parece uma oposição intestina, com poder de prejudicar o chefe de governo além do que faria seu mais eficiente adversário.

O prejuízo já começa a ser sentido, passados os 100 dias de expectativa de sedimentação dos arroubos iniciais. Não se culpem os jornalistas, pois eles apenas transmitem as mensagens que geram dissenso. Se alguém defendeu o candidato, mas agora está atrapalhando o eleito, isso é notícia, porque notícia é tudo aquilo que é surpreendente, raro, esquisito ou estranho. O prejuízo é sentido na confiança de investidores, porque não veem rumo. O prejuízo é sentido entre os aliados do governo no Congresso, porque não sentem mão do Palácio a indicar rumos, como tem sido usual na história do parlamento.

Se alguém ofendesse com palavras de baixo calão e termos chulos um auxiliar meu, se eu fosse Presidente, eu de público encorajaria os auxiliares ofendidos a buscar compensação na Justiça, não apenas por danos morais, mas punição por injúria e difamação. Porque do contrário, iriam pensar que o presidente se encolhe perante o ofensor e não se importa com auxiliares da honorabilidade e do mérito dos ofendidos.

Tenho escrito e dito que o Brasil tem uma forte tendência ao masoquismo. Quando tudo vai bem, damos um jeito de estragar, porque nos sentimos melhor sofrendo. Alguns entre os que ajudaram a eleger Bolsonaro, em vez de ajudá-lo a governar, parecem estar organizados para atrapalhar. Como ninguém está acostumado tocar um barco em que alguns remam num sentido e outros remam na direção contrária, a embarcação, com forças que se anulam, fica ao sabor da corrente. A menos que o capitão do navio imponha a disciplina nos remadores, segurando firme no leme e mostrando que há rumo, como foi indicado na bússola das urnas. Um barco bem comandado pode resistir a tsunami.