A artista plástica, Maria de Lourdes Soto da Silva, de 63 anos, está de passagem pela cidade de Vilhena onde permanece até o dia 14, quando tem uma passagem marcada para o estado do Mato Grosso.
Por meio de certificados e cartas de recomendação assinadas por autoridades rondonienses, ela relatou a reportagem do VILHENA NOTÍCIAS na noite deste domingo, 10 de dezembro, ter sido a primeira pesquisadora de solos no estado de Rondônia, porém ela diz que seu trabalho como pesquisadora nunca foi recompensado financeiramente. Por não ter condições para arcar com a hospedagem até o dia 14, quando viaja para o Mato Grosso, ela está passando os dias, inclusive dormindo, no Terminal Rodoviário de Vihena e tem se mantido com o apoio da população que passa pelo local.
Primeiros trabalhos com o barro
Segundo a artista plástica, sua carreira começou aos oito anos na cidade de Cotriguaçu (MT) quando, brincando com o barro, conseguiu fazer um pote que agradou a família. Com isso, sua mãe a colocou para trabalhar confeccionando peças oriundas do barro como panelas, potes, entre outros. Assim Maria de Lourdes conta que passou toda a adolescência trabalhando na área, porém na juventude sua família se mudou de cidade e ela acabou abandonando a arte por cerca de vinte anos.
Vinda para Rondônia
De acordo com relatos de Maria de Lourdes, no ano de 1978, motivada pela esperança de ser beneficiada com uma propriedade rural através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, ela, que estava viúva há três anos, se mudou para Rondônia com seus quatro filhos pequenos.
“Tínhamos a informação de que em Rondônia, o INCRA estava dando terra para a população e como na época nós trabalhávamos como arrendatários, decidi me mudar para cá na esperança de ter um pedaço de terra para cuidar dos meus quatro filhos pequenos”, contou.
Chegando ao estado, Maria de Lourdes, que declara não ter realizado o sonho de obter sua propriedade rural, se estabeleceu na zona rural de Pimenta Bueno, próximo a cidade, o que permitiu que ela trabalhasse como empregada doméstica na zona urbana.
Pesquisadora de solos
Ela relembra que alguns anos depois de se mudar para Pimenta Bueno, a vontade de voltar a trabalhar com moldura em barro fez com que ela abandonasse o trabalho de empregada doméstica e passasse a atuar como guarda noturna em uma serraria localizada no Setor Abaitará, saída para Rolim de Moura, para que assim pudesse trabalhar com a terra durante o dia.
“Nesta época comecei a pesquisar o solo da região de Pimenta Bueno e fiz o mapeamento dos locais onde tinha argila”, ressalta.
Maria de Lourdes conta que nesta época voltou a confeccionar peças artesanais em sua residência para fins comerciais e a realizar exposições do seu trabalho no Banco do Brasil do município.
Em 1991, quando seu trabalho já estava bastante divulgado na cidade, ela diz ter recebido convite da Emater para dar aulas de modelagem em barro em vários municípios de Rondônia, época que ela fez cursos de especialização na área.
“Foi por meio deste trabalho, tanto das pesquisas no solo quanto as aulas em todo o estado, que a Rede Globo veio à Rondônia fazer uma reportagem sobre o potencial do estado, principalmente em Pimenta Bueno onde já tinha a área toda pesquisada e a partir desta divulgação, empresários passaram a montar fábricas de cerâmica na cidade”, afirma.
Segundo Maria de Lourdes, o cansaço e problemas de saúde fizeram com que ela parasse de dar aulas pela Emater e iniciasse uma nova fase como professora. Ela passou a realizar trabalho voluntário em sua casa pelo qual ensinava às crianças sua arte com a argila.
“Eu não recebia nada, mas tirava as crianças da rua. Fiz este trabalho por três anos”, diz ela.
Idas e vindas ao Mato Grosso
No ano de 2000, ela retorna ao Mato Grosso, desta vez para Aripuanã, onde permanece até novembro de 2012, quando decide morar em Pimenta Bueno na casa de um de seus filhos. Contudo, ela conta que por motivos particulares preferiu retornar ao estado do Mato Grosso no último sábado, 08.
Porém, a aposentada reclama que precisa ficar em Vilhena até o dia 14 deste mês já que, de acordo com ela, por ser aposentada as empresas de ônibus relataram que só haverá vaga disponível nesta data.
Sem condições financeiras para se hospedar, Maria de Lourdes permanece até a data de sua viagem com todas as suas bagagens no Terminal Rodoviário de Vilhena, e afirma ter se mantido com a colaboração da população que passa pelo local. Com diversos certificados e cartas de recomendação, ela pede que se alguém se interessar na sua arte pode procurá-la no terminal rodoviário.
Trabalho sem recompensa
Uma das ressalvas feitas pela artista plástica é nunca ter sido recompensada financeiramente pelas pesquisas que declara ter realizado no solo de Rondônia, salvo a época que trabalhou como professora pela Emater. Ela conta que enquanto lecionava nos municípios de Rondônia na década de 1990, foi convidada pela prefeitura a realizar estudos no solo da cidade de Espigão do Oeste, contudo, ela nunca chegou a receber pelos serviços prestados. Ela diz, entretanto, que não sente que teve seu trabalho desvalorizado, muito pelo contrário “foram eles que se desvalorizaram pois eu continuo trabalhando no que gosto”, ela finaliza.