Justiça marca audiência de instrução de acusado de atacar médico com soda cáustica em RO

Oziel Araújo Fernandes, de 41 anos, será ouvido no dia 20 de maio. A vítima, Gladson Siqueira, de 49 anos, recebeu alta no fim do mês passado; crime ocorreu em Porto Velho.

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Médico estava chegando para plantão no Cemetron quando foi abordado pelo suspeito. — Foto: Pedro Bentes/ G1

O juiz Ênio Salvador Vaz, da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Velho, marcou para o dia 20 de maio a audiência de instrução do agente penitenciário Oziel Araújo Fernandes, de 41 anos. Ele é acusado de ter atacado o médico infectologista Gladson Siqueira, de 49 anos, com soda cáustica no dia 6 de março.

Segundo a assessoria da Secretaria de Saúde do estado (Sesau), a vítima teve alta do Hospital de Base no fim de março.

O inquérito da Polícia Civil foi finalizado no dia 18 de março e concluiu que o agente penitenciário era suspeito de tentar matar Gladson de forma premeditada. Ele, então, foi indiciado por tentativa de homicídio triplamente qualificado.

A defesa do agente chegou a pedir que a Justiça convertesse a prisão preventiva dele por “outras medidas cautelares diversas da prisão”. O pedido foi negado e Oziel segue preso.

Médico Gladson Siqueira foi atacado com soda cáustica no dia 6 de março. — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Médico Gladson Siqueira foi atacado com soda cáustica no dia 6 de março. — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Na decisão sobre a audiência, Ênio Salvador diz que o advogado de Oziel afirmou que as testemunhas do caso só foram ouvidas após o término do inquérito policial e, com isso, solicitou que elas sejam ouvidas novamente.

Porém, o juiz negou o pedido justificando não ter a comprovação de que as pessoas de fato prestaram depoimento após a polícia concluir as investigações. Além disso, avaliou que não foi preciso verificar com a Secretaria de Justiça de Rondônia (Sejus) se Oziel responde ou não a um processo administrativo disciplinar (PAD).

A reportagem procurou pelo atual advogado de Oziel. Ele informou que não irá se manifestar sobre o caso.

A reportagem também acionou a Sejus para saber se o órgão chegou a abrir um processo administrativo contra o agente penitenciário, mas até o fechamento desta matéria, as ligações não foram atendidas ou retornadas e o e-mail não foi respondido.

Vítima em casa

A assessoria da Sesau informou que Gladson Siqueira teve alta no fim de março. Ele estava internado no Hospital de Base de Porto Velho. Informou também que o médico infectologista perdeu a visão de um olho e luta para não perder a do outro.

Médico seguia internado no Hospital de Base Ary Pinheiro, em Porto Velho — Foto: Toni Francis/G1/Arquivo
Médico seguia internado no Hospital de Base Ary Pinheiro, em Porto Velho — Foto: Toni Francis/G1/Arquivo

Na época do crime, a unidade de saúde onde o médico estava em observação médica informou à polícia que a soda cáustica atingiu as vias aéreas da vítima por ingestão. Com isso, Gladson precisou passar por uma traqueostomia, procedimento que facilita a entrada de oxigênio no corpo.

Conclusão das investigações

Oziel foi indiciado por tentativa de homicídio triplamente qualificado pela Polícia Civil. Segundo a Delegacia de Homicídios, o inquérito sobre o caso foi finalizado 10 dias após a data do crime e enviado ao MP. A corporação concluiu que o agente penitenciário, então suspeito do crime, tentou matar Gladson de forma premeditada.

“Ele diluiu um pouco mais de 500 gramas de soda cáustica em uma garrafa pet de 1,5 litro de água. Testemunhas afirmam que o viram com luvas e jaquetas, possivelmente, para dificultar a identificação dele, antes da chegada da vítima. Ele estava se resguardando do que iria fazer. Não satisfeito em ter desfigurado a vítima, ele ainda trocou tiros com o médico”, explicou a delegada à frente do caso na época, Leisaloma Rezem.

Caso foi investigado na Delegacia de Homicídios de Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1
Caso foi investigado na Delegacia de Homicídios de Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1

As investigações também apontaram que não houve a intenção por parte do suspeito de se apresentar à delegacia. Conforme a polícia, a mulher do suspeito sugeriu que ambos fugissem. Ela, no entanto, acabou interceptada por policiais no trajeto e foi ouvida pela polícia no mesmo dia do caso.

A polícia concluiu ainda que Gladson não estava assediando a mulher do agente, diferente do que ele informou que seria a motivação ao crime.

Relembre o caso

Na manhã do dia 6 de março, Gladson Siqueira foi atacado com soda cáustica dissolvida em água, no estacionamento do Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron), em Porto Velho. Ele chegava para o plantão no momento do ataque.

Segundo a perícia técnica, houve troca de tiros no local. Oziel chegou a ficar ferido no ombro direito. Conforme uma testemunha, o agente penitenciário chegou em uma moto, parou ao lado do carro do médico, iniciou uma conversa e jogou a soda cáustica na vítima.

Garrafa onde estava a soda cáustica dissolvida em água usada pelo suspeito para atacar o médico. — Foto: Pedro Bentes/ G1
Garrafa onde estava a soda cáustica dissolvida em água usada pelo suspeito para atacar o médico. — Foto: Pedro Bentes/ G1

O médico, então, reagiu com sua arma de fogo e Oziel revidou, dando início a uma troca de tiros. Testemunhas relatam que ouviram de cinco a seis disparos. A polícia informou que Gladson é militar da reserva do Exército. O médico foi encaminhado ao Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro com queimaduras no rosto.

No período da tarde do mesmo dia, Oziel se apresentou na Delegacia de Homicídios da cidade e confessou o crime. Porém, antes de ser preso, foi levado a um hospital particular da cidade para exames por conta do tiro que levou no ombro direito.

A mulher de Oziel também foi ouvida na delegacia e disse que não sabia que o marido iria cometer o crime. A motocicleta utilizada pelo suspeito na hora do crime foi apreendida, assim como o telefone celular da esposa dele, materiais médicos, toalhas e malas com medicamentos.

No dia seguinte ao crime, estudantes de uma faculdade particular fizeram uma homenagem ao médico, onde ele leciona como professor de medicina. Eles se reuniram na área externa da faculdade e oraram por Gladson.

Alunos se mobilizaram em prol do médico Gladson Siqueira, em Porto Velho — Foto: Reprodução/ Redes Sociais
Alunos se mobilizaram em prol do médico Gladson Siqueira, em Porto Velho — Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Nas redes sociais, a faculdade publicou uma nota de repúdio contra o atentado sofrido pelo professor. A instituição diz se solidarizar com a família e amigos do médico e reforça seu compromisso com a luta contra todo e qualquer tipo de violência.

Internautas comentaram lamentando a agressão, se solidarizando com a família da vítima e desejando melhoras ao médico.

Fonte: G1/Rondônia