O Brasil perdeu hoje (19) o seu mestre do terror: morreu aos 83 anos o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão. A informação foi confirmada pela produtora do cineasta. O velório será realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. A causa da morte ainda não foi divulgada.
Nascido no dia 13 de março de 1936, em São Paulo, José Mojica Marins era filho dos artistas circenses Antonio André e Carmen Marins. Sua família administrava um cinema, o que fez com que ele se obcecasse desde pequeno com a sétima arte e começasse a criar filmes com apenas 17 anos. Autodidata em cinema, em 1956, Mojica já era especializado em terror escatológico.
Mojica interpretou Zé do Caixão pela primeira vez em “À Meia-Noite Levarei tua Alma” (1964), parte de uma trilogia completada por “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967) e “Encarnação do Demônio” (2008). A persona de Zé do Caixão se integraria à sua personalidade e imagem no imaginário popular, se tornando mais famosa do que o próprio diretor.
Outros destaques de sua filmografia com dezenas de trabalhos são “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, “O Despertar da Besta” (1970), “Exorcismo Negro” (1974) e “Delírios de um Anormal” (1978); montagem de trechos censurados de seus trabalhos anteriores.
“Zé do Caixão, é um dos grandes personagens do terror mundial, um provocador à frente do seu tempo, que flertava com as instituições (fossem políticas, fossem religiosas) ao mesmo tempo que destilava seu desprezo por qualquer ordem que não fosse a sua. Era o auge da ditadura militar no Brasil quando criador e criatura tomaram o imaginário com uma série de filmes diferentes de tudo que era feito aqui (e pelo mundo)”, lamentou o crítico de cinema do UOL Roberto Sadovski.
Seu trabalho foi reconhecido e premiado nos Estados Unidos e Europa, onde é conhecido como “Coffin Joe”. Mojica e Zé do Caixão foram homenageados por bandas de heavy metal como Necrophagia, Sepultura e White Zombie. Mojica mantinha no Canal Brasil o programa de entrevista “O Estranho Mundo do Zé do Caixão”, dirigido por André Barcinski.
Em 2018, Barcinski publicou em seu blog no UOL, um relato sobre os bastidores do programa. “‘O Estranho Mundo de Zé do Caixão’ foi o trabalho mais legal e divertido que fiz. Estreou em 2008 e durou sete temporadas. Tentamos fazer um talk show diferente, sem perguntinhas inofensivas sobre a próxima turnê de um cantor ou a cena favorita de um ator de “Malhação”. A tônica do programa seria o inusitado. Como os entrevistados estavam diante de um sujeito muito mais esquisito que eles próprios, acabavam se abrindo e contando coisas que raramente falavam em outros programas. Mojica sabia, melhor que ninguém, extrair confissões surpreendentes dos convidados”.
O último trabalho como diretor foi em 2015, com o seguimento “O Saci” no longa “Fábulas Negras”. Nos últimos anos, Zé do Caixão enfrentou diversos problemas de saúde. O quadro debilitado do cineasta foi mostrado no programa “Domingo Show” em 2019.
Fonte: UOL