A gari Paulina Carvalho, de 25 anos, ficou famosa na internet após fazer um post relatando o preconceito sofrido enquanto trabalhava em uma rua de Porto Velho. “Uma senhora motorista me abordou e perguntou por que eu me arrumava tanto para varrer rua, pois eu era uma gari. Sem ser grosseira, respondi a ela que não é por trabalhar varrendo rua que deixarei de ser mulher”, conta.
Paulina fez uma postagem no Facebook no mesmo dia do ocorrido, descrevendo a resposta dada a motorista, e daí por diante o relato ganhou repercussão. Várias páginas públicas de Rondônia compartilharam o post de Paulina e já somam mais de 4 mil curtidas em menos de dez dias.
Paulina explica que é concursada da Subsecretaria Municipal de Serviços Básicos (Semusb) e há quatro anos sempre se maquia para trabalhar. No final do mês de outubro, uma mulher se incomodou pelo fato dela estar ‘bem arrumada’ para varrer a rua.
“Era por volta de 18h, horário que começo a varrer o trecho onde trabalho. De repente chegou uma senhora bem vestida, em carro do ano, e parou ao meu lado. Ela me olhou de cima abaixo e falou: ‘nossa, para que se emperiquitar tanto para trabalhar? Você vai varrer o chão e vai estar com a cara cheia de poeira e não vai dar pra ver nem o pó do seu rosto’. Na hora fiquei assustada”, relembra Paulina.
Em entrevista, Paulina conta que ao ouvir a frase da motorista ficou sem reação, mas depois de compreender o comentário, decidiu respondê-la.
“Respirei fundo e respondi que o fato de eu trabalhar com a limpeza não influencia em nada ao que se refere em me arrumar, andar cheirosa, maquiada e de brinco. Eu ainda disse a ela que se eu quisesse poderia ir trabalhar até de salto alto”, explica.
Rotina de trabalho
Paulina inicia a rotina de trabalho às 18h00 e encerra às 22h00. O trecho onde geralmente trabalha fica na Rua Duque de Caxias, Bairro Caiari.
A jovem afirma ter o privilégio de trabalhar junto com o pai, Manoel Roberto de Carvalho. Ele também é gari e há 18 anos está nas ruas de Porto Velho.
“É uma profissão essencial e isso eu aprendi com meu pai. A gente chega nos lugares e está tudo desorganizado, mas em questão de horas deixamos tudo arrumado, limpinho. Isso para ter a gratificação apenas de algumas pessoas, que passam pela gente e agradece, não é todo mundo que reconhece isso, mas sabemos a importância do que realizamos diariamente. Tenho orgulho do da minha profissão”.
Paulina passou no concurso da prefeitura aos 21 anos, depois de se tornar mãe.
Depois de Paulina fazer o desabafo nas redes sociais, a jovem recebeu centenas de comentários de apoio.
” Vem varrer minha rua, minha casa, minha vida. Parabéns trabalho honesto. Nunca vai te desmerecer sem contar que você linda”, disse um internauta.
Outro usuário afirma que a gari agiu corretamente ao responder a motorista.“Palmas pra ela que gentilmente colocou a pessoa no lugar. Todas as profissões são dignas”, afirma.
Mulheres garis
De acordo com a Prefeitura de Porto Velho, as mulheres garis são maioria na capital. Atualmente a Semusb tem 631 garis e, deste total, 374 são trabalhadoras.
Fonte: Portal G1