Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

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Vladimir Putin ordenou na sexta-feira 22 a realização de mais testes de combate com um míssil balístico hipersônico

Volodymyr Zelensky Foto: Tobias SCHWARZ / AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou na sexta-feira 22 a realização de mais testes de combate com um míssil balístico hipersônico lançado ontem contra a Ucrânia, que, por sua vez, pediu a seus aliados sistemas de defesa antiaérea de última geração para lidar com esta nova ameaça.

A Rússia confirmou na quinta-feira que, em resposta a bombardeios ucranianos com projéteis ocidentais, disparou seu novo míssil “Oreshnik” de médio alcance (até 5.500 km) contra uma instalação militar em Dnipro, no centro-leste da Ucrânia.

Nesta sexta, Putin ordenou iniciar a produção em série de este artefato com capacidade nuclear e seguir realizando “testes” com ele, “inclusive em condições de combate, em função da situação e do caráter das ameaças para a segurança” da Rússia.

Após o anúncio de Putin, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, reivindicou a seus aliados a entrega de novos sistemas de defesa antiaérea “que possam proteger vidas diante dos novos riscos”.

A Ucrânia está equipada com sistemas Patriot americanos — com os quais afirma já ter interceptado vários mísseis hipersônicos Kinjal, classificados de “invencíveis” pelo Kremlin — e seu equivalente franco-italiano Samp/T, mas em número bastante reduzido, para proteger todas as suas cidades.

No entanto, a Rússia sustenta que, com o Oreshnik, dispõe de um artefacto impossível de ser interceptado e capaz de alcançar todos os países da Europa.

Um alto funcionário americano minimizou a importância da ameaça que representa o novo míssil russo.

“Trata-se de uma arma experimental da qual a Rússia dispõe de um número limitado e que não está em condições de utilizar regularmente no campo de batalha”, declarou, sob condição de anonimato.

Não minimizar as ameaças

Os Estados Unidos autorizaram no domingo que a Ucrânia utilize suas armas para atacar o território russo, apesar das contínuas advertências de Moscou, que reforçou a ameaça nuclear.

Kiev já solicitava essa autorização há algum tempo, com o objetivo de atacar as bases de onde a Rússia bombardeia a Ucrânia.

Seus aliados, contudo, haviam negado essa permissão, temendo uma reação de Moscou, que considerava isso uma linha vermelha na guerra iniciada com a invasão ao país vizinho em fevereiro de 2022.

Segundo meios de comunicação ocidentais, os Estados Unidos e o Reino Unido finalmente deram o aval, em resposta ao envio de milhares de soldados norte-coreanos para apoiar as tropas russas.

O chefe do Pentágono, Lloyd Austin, disse neste sábado (23, data local), nas Ilhas Fiji, que cerca de 10.000 soldados norte-coreanas estão na província fronteiriça russa de Kursk, tomada parcialmente pela Ucrânia, que entrarão “logo em combate”.

Putin declarou na quinta-feira que o conflito na Ucrânia havia ganhado um “caráter mundial” e ameaçou atacar os países que fornecem a Kiev armas utilizadas para atingir a Rússia.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, maior aliado de Moscou na União Europeia, pediu nesta sexta para que não se subestime as ameaças da Rússia, um país com “as armas mais destrutivas do mundo” e “que baseia sua política e seu lugar no mundo em geral na força militar”.

Contudo, Zelensky argumentou que o uso demonstrativo por parte da Rússia de um míssil deste tipo para atacar a Ucrânia “ridiculariza a posição de Estados como a China, dos Estados do Sul Global e certos líderes que pedem moderação a todo momento”.

Otan e Ucrânia realizarão na terça-feira, em Bruxelas, uma reunião para analisar a situação, durante a qual Kiev espera decisões “concretas” de seus aliados.

Rússia avança no leste

No terreno, as tropas russas continuam avançando no leste da Ucrânia.

Uma fonte do Estado-Maior ucraniano reconheceu nesta sexta-feira que o Exército russo avançou “200-300 metros por dia” perto de Kurakhove, uma importante cidade que pode ser tomada em breve.

Perto de Pokrovsk, outra cidade que serve como um centro logístico importante para as forças ucranianas, a situação é mais favorável e “praticamente não mudou nos últimos dois meses”, segundo a fonte militar.

Apesar dessa situação, o Exército ucraniano, que carece de soldados e equipamentos, não tem a intenção de se retirar da província russa de Kursk, onde ainda controla “cerca de 800 km²”, acrescentou.

Na capital Kiev, o Parlamento ucraniano cancelou sua sessão devido ao crescente risco de um ataque russo com mísseis, disseram vários deputados.

Em Dnipro, que tinha cerca de 970.000 habitantes antes da guerra, moradores entrevistados pela AFP ainda estavam chocados com o disparo do novo míssil russo na quinta-feira, apesar de estarem acostumados com os bombardeios.

“Estamos sempre com medo, mas desta vez foi diferente”, explicou Janna, de 49 anos, que trabalha em um mercado.

As autoridades ucranianas não se pronunciaram sobre os danos. Acredita-se que o bombardeio tinha como alvo uma fábrica do grupo PivdenMach, que produz componentes para mísseis.

Os jornalistas da AFP não puderam confirmar se esta fábrica foi atingida.

“A principal mensagem é que as decisões e ações imprudentes dos países ocidentais que produzem mísseis, os fornecem à Ucrânia e depois participam de ataques em território russo não podem ficar sem reação por parte da Rússia”, insistiu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Os países ocidentais classificaram o lançamento do míssil russo como uma perigosa “escalada” e condenaram a retórica “irresponsável” de Moscou sobre o uso de armas nucleares. A China pediu “moderação”.

Fonte: Carta Capital